Introdução à Neurologia por trás do Leg Check
Ao observarmos o procedimento, é fácil entender o ceticismo de algumas pessoas. Muitos quiropraxistas, inclusive, questionam a eficácia e validade do Leg Check.
Historicamente, é difícil estabelecer a origem exata do Leg Check, e até mesmo a respeito da sua primeira padronização, parece haver controvérsias. Para evitar (ou minimizar) erros, deixarei essa questão em aberto para uma futura publicação.
O Leg Check, amplamente utilizado, é um método central em muitas técnicas quiropráticas.
O Leg Check consiste em verificar se uma perna está “mais curta” que a outra. Dependendo da técnica que utiliza o Leg Check, a avaliação pode ser feita em decúbito dorsal, ventral ou com o avaliado sentado.
(A hipótese neurológica abaixo refere-se ao Leg Check em prono, já que existem algumas variáveis para a avaliação em supino.)
A "perna curta" é considerada um indicativo de subluxação vertebral. Os detalhes específicos variam de acordo com os procedimentos de cada técnica, mas nossa ênfase aqui é em entender o que é essa "perna curta" e por que ela ocorre, para então discutir sua relação com a subluxação vertebral.
Um corpo balanceado, sem interferências na comunicação entre o cérebro e os demais sistemas, portanto sem disfunções proprioceptivas, normalmente apresenta pernas de igual comprimento e contração muscular postural significativamente simétrica, exceto em casos de alterações anatômicas/morfológicas.
Quando ocorre a disfunção motora nas articulações vertebrais, desencadea-se uma série de reações fisiológicas, muitas delas quase que simultaneamente. Essas reações incluem:
Estimulação neuromuscular: O músculo que se insere na vértebra desalinhada será esticado, estimulando os fusos neuromusculares e os órgãos tendinosos de Golgi.
Alterações na cápsula articular: A cápsula articular de uma ou mais articulações facetárias (dependendo da listagem) apresentará uma pequena tensão, começando a formar o "nódulo" característico. Outras cápsulas articulares, por sua vez, podem ter redução da tensão, e essa diferença será percebida pelos receptores nociceptivos e proprioceptivos das cápsulas.
Aumento de atrito e inflamação: As superfícies facetárias da articulação com espaço reduzido devido à alteração de movimento, sofrerão um aumento de atrito, causando microdanos e um subsequente processo inflamatório. Esse processo é um dos principais responsáveis pelo edema, dor e alteração de temperatura local, fatores que também prejudicam as funções proprioceptivas da região e são avaliados em algumas técnicas.
Todas essas informações proprioceptivas são conduzidas pelo trato espinocerebelar dorsal e ventral, utilizando fibras nervosas do tipo A (especificamente, Aα e Aβ), até o cerebelo. O cerebelo processa essas informações para coordenar e ajustar movimentos inconscientes, sem envolver diretamente o tálamo ou o córtex cerebral para essa função.
Paralelamente, as informações de dor são transmitidas diretamente ao tálamo pelo trato espinotalâmico lateral. Essas informações são conduzidas por fibras do tipo C (para dor lenta e difusa) e Aδ (para dor rápida e aguda). Após o tálamo, os sinais de dor são direcionados ao córtex somatossensorial primário, onde a dor é percebida de forma consciente.
Em resposta às informações proprioceptivas e nociceptivas recebidas, o córtex motor e o córtex somatossensorial desencadeiam uma série de adaptações (ou más adaptações). Essas respostas podem incluir o reposicionamento da cabeça e dos olhos, a reorganização da musculatura postural, entre outras mais complexas, que visam manter o equilíbrio e a postura o melhor possível.
Através do trato vestíbulo-espinhal, os núcleos vestibulares coordenam a resposta dos músculos posturais, resultando na contração assimétrica desse grupo de músculos (especialmente os da pelve e dos membros inferiores). Essa contração assimétrica, baseada nas informações alteradas decorrentes da subluxação vertebral, é o que causa o fenômeno de uma perna "mais curta".
(RESUMO) A razão direta pela qual as pernas apresentam diferença de comprimento é a contração assimétrica da musculatura postural, envolvendo a pelve e membros inferiores, em resposta a uma disfunção proprioceptiva decorrente do desalinhamento de uma vértebra.
Essas reações fisiológicas podem ser observadas em um contexto de causa e efeito clínico, no qual as pernas se igualam tão logo a subluxação vertebral seja corrigida.
(PÓS-AJUSTE) As respostas são rápidas, pois as fibras nervosas que transmitem informações sobre essas posições vertebrais aberrantes são do tipo 1A, as mais rápidas do corpo humano. No entanto, a dor local pode persistir, embora amenizada, pois, apesar do estímulo ter cessado, o sistema linfático precisará de mais tempo para remover os mediadores químicos da inflamação.
Texto em parceria com Escolher Saúde - Quiropraxia
Última revisão 2024
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